Neste post, analisamos a previsão sazonal sobre a influência do El Niño nas regiões brasileiras, no próximo inverno e verão. A expectativa é que o fenômeno se firme no oceano Pacífico a partir de julho, tornando-se decisivo para alterar os padrões climáticos globais.
O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é um dos maiores influenciadores dos padrões climáticos sazonais. O fenômeno ocorre quando as condições das águas superficiais do oceano Pacífico tropical estão mais quentes que o normal (El Niño) ou mais frias do que a média (La Niña).
Cada fase do ENOS influencia especificamente os padrões de pressão e o clima resultante, em todo o mundo. Neste post, explicamos como a tendência de aquecimento dos oceanos vai influenciar o clima nas regiões brasileiras.
A imagem acima mostra a previsão da temperatura oceânica, baseada no modelo climático European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF). Ela mostra as anomalias de temperatura durante o inverno no Hemisfério Sul, ou seja, no período de junho a setembro deste ano.
No mapa da previsão sazonal, analisada pela temperatura da superfície do mar, observa-se um forte cinturão de anomalias quentes se estendendo pelo Pacífico tropical. Significa que nessas áreas as temperaturas da superfície oceânica estão acima do normal. Se essa previsão se confirmar, pode haver um evento forte de El Niño, com grande influência no clima global.
A previsão estendida do ENOS sazonal, também baseada no modelo ECMWF, indica consenso em torno de um evento de El Niño forte. No gráfico acima, a linha verde é o limiar do El Niño (acima de 0,5 °C). A previsão é que se configure um padrão típico de anomalias de temperaturas mais altas que o normal, no Pacífico tropical, a partir de julho deste ano. Será um padrão típico de El Niño clássico.
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O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) realiza o monitoramento permanente das condições climáticas das regiões brasileiras. De acordo com o recente boletim divulgado, o El Niño deverá atingir o seu pico no verão de 2024.
Existem dois tipos de El Niño: o clássico e o modoki. Se o aumento das temperaturas acima da média histórica ocorrer apenas em algumas regiões do Pacífico, configura-se um El Niño do tipo modoki. Já quando o aquecimento das águas abrange todas as regiões do Pacífico, configura-se o El Niño canônico ou clássico.
Os impactos do El Niño clássico no clima das regiões brasileiras são bem mais graves: enquanto sobre o Sul do País geralmente ocorrem muitas chuvas, no Nordeste, o El Niño canônico provoca seca intensa. Na região Sudeste, a influência maior é no aumento das temperaturas, não influenciando tanto no volume de chuvas.
As atuais projeções do Laboratório Lapis indicam que o aquecimento será em todo o Pacífico, quando ocorrerá uma configuração mais canônica ou clássica do El Niño.
Os indicadores oceânicos mostram que, no período de novembro deste ano a março de 2023, o fenômeno estará em seu ápice e, desta vez, com águas aquecidas em toda a extensão do Pacífico equatorial. Com isso, haverá alteração no padrão de chuvas e temperaturas para o Brasil, no inverno deste ano e ao longo de todo o primeiro semestre do ano que vem.
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A previsão do padrão de pressão do ECMWF mostra uma área de alta pressão sobre o leste do Canadá e da Groenlândia, e de baixa pressão abaixo dessas áreas, abrangendo o Atlântico e os Estados Unidos. Isso deve amplificar a corrente de jato subtropical.
A corrente de jato subtropical se refere a padrões de circulação em altos níveis da atmosfera, associados às correntes de jatos.
Uma corrente de jato é um tipo de corrente de ar formada no alto da atmosfera. A variação na sua posição faz com que sistemas meteorológicos, como frentes frias, se desloquem mais para o norte, durante o inverno (referindo-se ao Hemisfério Sul).Para saber mais sobre correntes de jato, acesse este post.
Em anos de El Niño, a corrente de jato no Atlântico, próximo a América do Sul, tende a ficar mais intensa. Em 1984, especialistas relacionaram o padrão do escoamento em altos níveis a um bloqueio ocorrido na América do Sul, durante o El Niño de 1983, ressaltando o papel do Jato Subtropical nas intensas precipitações sobre o Sul do Brasil.
No Livro “Um século de secas”, os autores descrevem que esse foi um ano de seca severa no Nordeste brasileiro, em razão de um El Niño de categoria forte.
O mapa acima mostra uma área de alta pressão mais forte no noroeste da Europa, especificamente no Reino Unido, na Irlanda e no oeste da Escandinávia. Na Europa, um sistema tão forte pode ter uma influência generalizada nos padrões climáticos de verão.
O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro "Um século de secas". Uma das análises mais completas sobre a região semiárida brasileira, a obra permite entender mais sobre El Niño, La Niña, influência climática do oceano Atlântico e a análise de cada seca ocorrida nos últimos cem anos. Para isso, foram usados produtos e séries temporais de dados de satélites. O destaque é para a maior seca do século, tendo afetado a região no período 2011-2017.
*Post atualizado em: 19.05.2023, às 11h03.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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