Meteorologista explica por que chegada do El Niño ainda vai demorar



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Embora águas mais frias que o normal ainda persistam no Pacífico central, indicando a presença do La Niña, essa região já entra em condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS). No último mês de janeiro, uma fase de resfriamento mais forte surgiu no Oceano, produzindo “ondas” frias ainda visíveis, em razão dos ventos alísios que empurram as águas superficiais. O La Niña é a fase fria do fenômeno.

Mas o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), ressalta que temperaturas mais quentes que o normal surgiram recentemente no leste do Pacífico, de forma incomum. “Esse aquecimento já se espalha naquela área, impulsionado por ventos vindos do oeste. Isso vai provocar o colapso do La Niña”, explica Humberto.

O gráfico abaixo mostra a anomalia da temperatura na região do El Niño, desde meados de dezembro do ano passado. Você pode ver que ela atingiu o menor patamar no início daquele mês, ficando abaixo de -0,5 ºC. Os ventos alísios são a importante força motriz, por trás desse resfriamento. Mas desde fins de fevereiro, uma anomalia quente emerge no leste do Pacífico.

La Niña no Pacífico

A atividade abaixo da superfície do Pacífico também é muito importante para o clima. Na imagem abaixo, você pode ver a anomalia da temperatura das águas profundas e a continuidade de uma piscina fria do La Niña. Porém, já há uma anomalia quente abaixo do Oceano, ao oeste, e nos níveis de superfície, ao leste.

Essa condição mostra que as anomalias quentes da superfície, no leste do Pacífico, não são profundas. Elas parecem ser causadas mais pela anomalia atual dos ventos de oeste do que por uma mudança da fase real da profundidade.

“Como a temperatura mais quente no leste do Pacífico ainda é superficial, é sinal de que ainda vai levar um tempo para o El Niño chegar. Embora as águas do Pacífico já estejam, em média, com temperaturas em condição de neutralidade, a atmosfera continua respondendo ao La Niña. Mas esses sinais de aquecimento tornam os ventos e a pressão mais instáveis”, explica Humberto.

Segundo o Laboratório Lapis, a expectativa é que a condição de neutralidade do ENOS persista pelo menos até o inverno (junho a agosto). O ENOS neutro significa que as temperaturas da água do Pacífico equatorial não terão impactos previsíveis sobre os padrões climáticos das regiões brasileiras. Assim, devemos observar outras mudanças de padrão de curto ou longo prazo, para prever a condição climática.

>> Leia também: El Niño avança, mas atmosfera ainda responde ao La Niña

A atual influência do Atlântico no clima das regiões brasileiras

Mapa da situação do Atlântico_QGIS

O oceano Atlântico exerce influência importante no clima do Brasil, principalmente quando o ENOS está neutro, ou seja, sem La Niña e sem El Niño. A imagem acima mostra a variação da temperatura da superfície do mar (TSM) na região do Atlântico tropical, com dados atualizados no último dia 12 de março.

Você pode observar que na costa leste do Nordeste brasileiro, as temperaturas estão de neutras a mais frias que o normal. Essa condição tem favorecido o avanço da massa de ar seco pelo continente. Por isso, desde fevereiro, a seca persiste em grande parte da região.

A imagem do satélite Meteosat Terceira Geração (MTG), canal de vapor d’água, mostra muitas nuvens sobre o Brasil, devido a um sistema de baixa pressão (massa de ar mais úmido). No Semiárido e na costa leste do Nordeste, Sol com mais nuvens, por conta de um sistema de alta pressão (massa de ar seco).

Massa de ar quente e seco

O canal detecta o transporte do vapor de água, que contém grandes quantidades de energia latente. A radiação recebida pelo satélite neste canal resulta do conteúdo do vapor de água na atmosfera, de outra forma invisível.

Quando o Pacífico está neutro, o Atlântico Sul é decisivo para definir o padrão climático, nas regiões brasileiras. Atualmente, o Pacífico tropical está em condição de neutralidade, embora o El Niño já esteja em formação, na costa da América do Sul.

Como você pode observar no mapa acima, na costa das regiões Sul e Sudeste, o Atlântico está muito aquecido. Essa condição favorece alguns sistemas formadores de chuva naquelas áreas, a exemplo de frentes frias.

No mapa, as áreas em tons de vermelho representam águas superficiais mais quentes do que a média histórica, enquanto as cores que variam de azul a roxo, indicam águas mais frias que o normal.

>> Leia também: La Niña perde força e Pacífico mais quente já sinaliza para um El Niño

Mapeamento mostra regiões brasileiras com seca excepcional

Mapa da intensidade da seca_QGIS

O Laboratório Lapis atualizou o mapa de monitoramento da intensidade da seca, nas regiões brasileiras. De acordo com o novo mapa, áreas das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste estão afetadas por seca excepcional. Desde o Sudeste até o oeste da Bahia e áreas do Piauí, a situação está bastante crítica.

No mapa, as cores em laranja e vermelho mostram como piorou o percentual de umidade do solo e dos volumes de precipitação, quando comparado com a média histórica.

O mapa compara a atual quantidade de umidade do solo, com a média do mesmo período de 1961 a 2010. As áreas com seca prolongada (em tons de laranja e vermelho, no mapa), apresentam os seguintes impactos:

1) Déficit severo de precipitação: aumentando o risco de incêndios florestais;

2) Baixos níveis das águas: impactam diretamente no transporte fluvial e terrestre, afetando a economia da região;

3) Solo seco: com déficit de umidade a longo prazo.

>> Leia também: Pesquisa mostra como manejo do fogo combate à mudança climática na Amazônia

Mais informações

O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que apresenta um panorama completo da influência dos oceanos no clima do Semiárido brasileiro. Para adquirir o Livro, acesse a nossa livraria sem fins lucrativos.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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