El Niño de volta em 2023. O que você precisa saber?



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No período de dois a sete anos, o oceano Pacífico equatorial fica até 3 oC mais quente que o normal (o que conhecemos como El Niño) ou mais frio (La Niña), desencadeando uma cascata de efeitos climáticos em todo o mundo. Esse ciclo é chamado de El Niño Oscilação Sul (ENSO)

Normalmente, todo evento de El Niño costuma ser seguido por um La Niña, e vice-versa, com alguns meses de condições neutras entre os dois fenômenos. A mudança na temperatura da superfície do mar, associada aos eventos ENSO, é mais do que suficiente para interromper os padrões climáticos globalmente. Neste post, explicamos como os oceanos mais quentes irão influenciar no clima brasileiro no próximo verão 2023-2024. 

Não é de se estranhar que as condições de La Niña durem dois anos consecutivos, sendo mais raro ocorrer um La Niña de três anos, como no período 2020-2023. Desde o último mês de junho, instalou-se um El Niño no oceano Pacífico, alcançando intensidade forte no mês de novembro. Confira as atualizações neste post

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) informou que o oceano Pacífico equatorial ficou mais aquecido que o normal em junho deste ano. De acordo com o monitoramento, o El Niño se desenvolveu e alcançou intensidade forte no mês de novembro.

Dada a forte influência do ENSO nos padrões globais de precipitação e temperatura, o que o mundo pode esperar do atual evento de El Niño? 

Durante um El Niño, o oceano transfere parte do excesso de calor e umidade para a atmosfera. Além da tendência de aquecimento global, um forte El Niño pode adicionar até 0,2 oC à temperatura média da Terra. O ano mais quente registrado na história foi 2016, durante um El Niño particularmente forte.

O Planeta já aqueceu cerca de 1,2 oC, se comparado à sua temperatura nos tempos pré-industriais. O El Niño adiciona ainda mais calor à atmosfera, sendo possível que o aumento da temperatura da Terra exceda temporariamente o limite de 1,5 oC, previsto pelo Acordo de Paris. Isso pode ocorrer algum tempo depois do pico do El Niño, em 2024, embora seja muito cedo para saber intensidade do evento. 

O atual evento de El Niño forte, associado ao contexto de um Planeta mais quente, trouxe uma seca excepcional à Amazônia brasileira. Desde junho deste ano, uma massa de ar seco predomina naquela região, tendo como impactos severos pouca chuva, rios secos e altas temperaturas.

As condições climáticas de verão foram antecipadas no Brasil, em razão da influência do El Niño. São secas e calor extremo no Centro-Norte do Brasil, além de chuvas intensas na região Sul. Confira neste post a análise completa. 

>> Leia também: Laboratório alerta para comportamento atípico do El Niño nas últimas semanas

El Niño alcança intensidade forte em novembro

La Niña está mais fraco, mostra imagem

O Nordeste brasileiro passou por três anos de volumes de chuva próximos da média, devido às condições prolongadas de La Niña. Durante o El Niño, espera-se o contrário: menos chuva, temperaturas mais altas e maior risco de incêndios, especialmente durante o inverno e a primavera no Hemisfério Sul.

Dada a proximidade com o oceano Pacífico equatorial, o clima sul-americano é significativamente perturbado, sempre que ocorre um El Niño, com inundações na costa oeste do Peru e Equador, enquanto há seca na Amazônia e no Nordeste brasileiro, onde as consequências da quebra de safra podem repercutir em todo o continente.

Durante os eventos de El Niño, a queda da precipitação e o aumento da temperatura na Colômbia têm sido associados a surtos de doenças, transmitidas por insetos, como malária e dengue. Temperaturas mais altas, durante o El Niño, aumentam as taxas nas quais os mosquitos se reproduzem.

Em outros lugares, durante um El Niño, a floresta amazônica seca e o crescimento da vegetação diminui, para que menos CO₂ seja absorvido da atmosfera. Essa tendência é repetida nas florestas tropicais da África, Índia e Austrália.

Ainda há incertezas sobre como o El Niño vai se comportar, mas seus efeitos provavelmente serão amplificados pelas mudanças climáticas, em diferentes regiões do mundo.

Enquanto as temperaturas oceânicas enfraquecem o La Niña, a atmosfera ainda não se alterou e continua respondendo a esse fenômeno. Todos os modelos climáticos indicam que as temperaturas da superfície do Pacífico tropical (incluindo a região Niño 3.4) devem ficar em situação de neutralidade do ENOS, neste mês de fevereiro.

>> Leia também: A dança das nuvens em 2022 a partir de imagens do satélite GOES

A duração e intensidade do El Niño vai ameaçar a produção de alimentos?

Mapa do El Niño

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou recentemente para um possível retorno do El Niño. Esse fenômeno atmosférico provoca um aquecimento fora do normal das águas do oceano Pacífico, na área equatorial, elevando as temperaturas globais.

Segundo a OMM, há uma probabilidade de 24% de o El Niño voltar nos próximos meses de abril a junho. Já no período de junho a agosto, as chances sobem para 63%. Ou seja, há uma probabilidade alta de formação do La Niña, de modo que a dúvida é sobre sua intensidade e duração. 

O último grande episódio de El Niño ocorreu em 2015-2016 e foi de intensidade muito forte. Esse evento foi responsável por grandes enchentes no Sul do Brasil, inclusive dos maiores picos de cheia do Lago Guaíba, em Porto Alegre, desde as enchentes históricas de 1941 e 1967. Todo evento de El Niño é diferente, inclusive a sua duração e intensidade, da mesma forma que o seu impacto na produção agrícola.

Em resumo, a questão atual que deve estar no centro do debate é se o retorno do fenômeno vai ameaçar a produção mundial de alimentos, aumentando o risco de inflação nos preços dos alimentos. 

Análise das condições de temperatura do oceano Atlântico

Nas primeiras semanas de março, tem havido uma tendência ao resfriamento do Atlântico Sul, principalmente na costa leste do Nordeste brasileiro, com redução do Dipolo.

As temperaturas do Atlântico Sul são importantes para definir a condição climática das regiões brasileiras, mesmo sob um cenário de La Niña. A imagem acima mostra a variação espacial das temperaturas da superfície do oceano Atlântico, com dados do dia 23 de janeiro.

As áreas em tons azuis representam águas superficiais mais frias que a média histórica, dos últimos 30 anos, e as cores que variam do amarelo ao vermelho indicam águas mais quentes que o normal.

A imagem mostra águas mais quentes que o normal, no Atlântico, próximo à costa leste do Nordeste brasileiro, bem como do extremo sul da América do Sul. Já na costa da região Sudeste, as temperaturas do Oceano estão mais frias que o normal.

O monitoramento da temperatura da superfície dos oceanos é uma informação decisiva para compreender a previsão climática. Quanto mais aquecidas as águas da costa leste e norte do Nordeste, maior é a possibilidade de precipitação na região.

O destaque na imagem é o predomínio e a intensificação da área com as temperaturas mais frias que o normal, em grande parte da costa oeste da América do Sul, entre o litoral do Peru e do Chile. Os valores de anomalia de -0,4 oC a -5,2 oC abaixo da média histórica. Essa condição é favorável às chuvas no Centro-Oeste brasileiro.

Os dados usados para gerar o mapa abaixo foram obtidos pelo sistema EUMETCast, a tecnologia descentralizada da EUMETSAT para recepção de dados de satélites, instalada no Laboratório Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis). 

>> Leia também: Os fenômenos que estão trazendo chuvas para o Brasil em janeiro

Boletim atualiza situação climática do Brasil a partir de mapas

Mapa da intensidade da seca, processado no QGIS.

Mapa da intensidade da seca, processado no QGIS.

Neste post, analisamos a atual condição climática das regiões agrícolas brasileiras, a partir de mapas. As imagens fazem parte do portfólio de produtos de satélites do Laboratório Lapis.

Os produtos de satélites utilizados neste post são processados semanalmente, como resultado do monitoramento por satélite, para orientar a tomada de decisão na produção agrícola. Os mapas permitem se manter atualizado sobre as principais variáveis para monitoramento agrometeorológico, de qualquer área do território brasileiro.

Confira, a seguir, as informações obtidas a partir da análise de cada um desses produtos de satélites.

Fim de janeiro teve fortes chuvas no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil

Mapa da intensidade da seca, processado no QGIS.

Mapa da intensidade da seca, processado no QGIS.

O monitoramento climático das regiões brasileiras, a partir de dados de satélite, destaca chuvas fortes em áreas da Amazônia brasileira. De acordo com o mapa da intensidade da seca, referente ao período de 21 a 31 de janeiro, o final do mês foi marcado por forte recuperação das chuvas nessas áreas, além de boa parte do Sudeste.

Já em grande parte do centro-leste do Nordeste e Sul do Brasil, o período foi de estiagem ou de chuvas em torno da média. No mapa, chama-se atenção também para a estiagem no sudoeste da Amazônia

Essa imagem de satélite foi gerada no QGIS, a partir do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). O mapa é mais um dos produtos agrometeorológicos que fazem parte do portfólio de monitoramento do Laboratório Lapis. Com essa ferramenta, é possível se manter atualizado sobre os volumes de chuva, em qualquer área do território brasileiro, nas últimas semanas.

O produto pode ser gerado com frequência semanal, mensal e anual, sendo essencial para a orientação agrometeorológica, visando ao planejamento e tomada de decisão, na produção agrícola. O mapa pode ser utilizado juntamente com outros mapas semanais da cobertura vegetal, umidade do solo e precipitação, um tripé de imagens aplicadas à análise de variáveis agrometeorológicas.

O mapa da “intensidade da seca” foi processado no software QGIS, a partir de dados do produto CHIRPS, por meio do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). Para saber mais sobre esse e outros indicadores ambientais e agrometeorológicos, que fazem parte do portfólio de produtos de satélites do Laboratório Lapis, baixe nosso e-book gratuito.

>> Leia também: Como as maiores empresas agrícolas usam o Planet para monitorar lavouras?

Chuvas recentes desaceleram colheita de soja no Brasil

Mapa da umidade do solo, processado no QGIS.

Mapa da umidade do solo, processado no QGIS.

A umidade do solo se manteve praticamente a mesma nas regiões brasileiras, ao longo deste mês de janeiro, com umidade baixa na Argentina e em partes do Sul do Brasil. Por outro lado, o norte e sul do Nordeste brasileiro estão com solos mais úmidos.

As condições quentes e secas no sul do Brasil provavelmente vão colocar em risco o rendimento das colheitas. Para o Rio Grande do Sul, foi a quarta semana de janeiro mais seca e a primeira mais quente, em mais de 30 anos.

Já no Mato Grosso, foi uma das quartas semanas de janeiro mais chuvosas, em mais de 30 anos. As chuvas nessa temporada foram benéficas para as lavouras. Porém, uma pausa nas chuvas ajuda a acelerar a colheita da soja, bem como o subsequente plantio da segunda safra de milho.

As chuvas muito esperadas retornaram em áreas da Argentina, na quarta semana de janeiro. No entanto, as áreas a noroeste de Buenos Aires tiveram chuvas muito intensas. Essa foi uma das últimas semanas de janeiro mais chuvosas, em mais de 30 anos, para a província de Salta.

O padrão de clima seco no nordeste da Argentina e no Sul do Brasil é típico das condições esperadas durante o La Niña. Mas há vários sinais de que o La Niña está finalmente prestes a entrar em colapso.

Para a safra brasileira de soja, a previsão será de recorde de 154,2 milhões de toneladas, diante de 153,79 milhões de toneladas no mês passado. As áreas produtoras de soja no País têm sido beneficiadas por chuvas significativas, como mostra o mapa da umidade do solo.

Os contratos futuros de soja dos Estados Unidos subiram nesta quinta-feira, dia 02 de fevereiro, devido às condições climáticas de seca na Argentina. O contrato de soja mais ativo na Chicago Board of Trade (CBOT) ganhou 0,6%. O milho subiu 0,1% e o trigo permaneceu praticamente inalterado.

O tempo quente e seco deve durar por mais uma semana na Argentina, mas a segunda semana provavelmente terá fortes chuvas na maior parte das áreas produtoras. Isso pode aliviar o estresse nas colheitas. As chuvas recentes na Argentina não foram suficientes para aliviar as preocupações com o estresse causado pela seca nas safras.

A receita da Argentina com as exportações de grãos, oleaginosas e seus derivados caiu 61% em janeiro, em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a câmara de exportadores da Argentina.

>> Leia também: Mapeamento destaca áreas com perda de lavouras no Brasil

Mapa destaca áreas que mais receberam chuvas nas regiões brasileiras

Mapa do número de dias sem chuva, processado no QGIS

Mapa do número de dias sem chuva, processado no QGIS.

Durante o período de 16 a 22 de janeiro deste ano, quase todas as regiões brasileiras receberam chuvas regulares, com registro diário de precipitação. A área que continua seca é o Rio Grande do Sul, além da região do Semiárido brasileiro, principalmente o oeste da Bahia, norte de Minas Gerais e áreas que vão desde Sergipe até Rio Grande do Norte. Por outro lado, o centro-norte e sul do Nordeste brasileiro está com solos mais úmidos.

Grande parte das regiões produtoras argentinas enfrenta seca, o que tem afetado severamente as plantações. Infelizmente, as chuvas necessárias para quebrar esse ciclo de seca e baixa umidade parecem improváveis no curto prazo. Mesmo que chuvas significativas voltem à área, pode ser tarde demais para salvar algumas colheitas.

O estresse hídrico, agravado pelas altas temperaturas, resultou em quedas significativas nos rendimentos esperados de soja e milho, na Argentina. O padrão de clima seco na Argentina e no Sul do Brasil é típico das condições esperadas durante o La Niña. Mas há vários sinais de que o La Niña já vai entrar em colapso. No Rio Grande do Sul, foi a segunda semana de janeiro mais quente e a quinta mais seca, em mais de 30 anos.

No mapa, as áreas na cor marrom indicam onde não ocorreu chuva, nos últimos sete dias consecutivos. Já as áreas em verde mostram onde houve chuva significativa ou os locais que tiveram apenas 1 a 2 dias sem chover, durante o período.

O mapa do número de dias consecutivos sem chuva é um dos produtos de satélite do Laboratório Lapis, que permite monitorar as áreas mais secas, nas regiões brasileiras, atualmente.

O mapa foi elaborado com dados oriundos do produto Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS). O parâmetro utilizado baseia-se no número de dias secos, ou seja, quando o satélite não registrou chuvas, em 24 horas.

Mais informações

Os dados de satélites usados neste post foram processados no QGIS, o software de geoprocessamento gratuito mais usado no mundo. Se você quer dominar o QGIS, do básico ao avançado, inscreva-se no Curso do Laboratório Lapis.

É um treinamento totalmente prático e online, baseado no método “Mapa da Mina”, que ensina a produzir e analisar um portfólio de produtos de monitoramento agrícola e ambiental, usando dados de satélites. Para conhecer como funciona o método, clique neste link. 

*Atualizado em: 24.05.2023, às 13h18.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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