As tecnologias usadas pelos cientistas para monitorar o El Niño



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Recentemente, divulgamos neste post como os impactos de um El Niño forte podem se tornar mais graves, em razão do atual estágio do aquecimento global. Hoje, o Planeta está pelo menos 1,2 °C mais quente que o normal, se comparado com décadas anteriores, nas quais ocorreram eventos fortes de El Niño.

O El Niño provoca variações no clima de todo o mundo. Com o aumento do aquecimento global, seus impactos tendem a se tornar mais intensos, pois haverá mais eventos climáticos extremos, como grandes secas ou inundações.

O El Niño atinge de diversas maneiras a população: reduz a produção agrícola, inflaciona os preços dos alimentos e aumenta a fome. Além disso, o El Niño provoca danos à vida das pessoas (como mortes, doenças, deslocamentos e migrações), aos ecossistemas e às infraestruturas, sem falar nos prejuízos econômicos.

Esses impactos do El Niño sobre as pessoas decorrem principalmente da maior frequência de extremos climáticos, tendência naturalmente comum durante eventos de El Niño. Mas agora tornam-se mais grave, em razão da coincidência entre o maior nível de aquecimento climático global e a presença de um El Niño de intensidade forte.  

Os impactos do aquecimento climático global no El Niño ainda estão sendo investigados pelos cientistas. Embora evidências apontem para possíveis alterações, é necessário aprofundar os estudos e esforços de modelagem, para dimensionar as consequências. O avanço nas pesquisas vai ampliar nossa compreensão em torno da complexa relação entre o El Niño e a mudança climática, auxiliando em previsões mais precisas das condições climáticas futuras.

A interação entre a mudança climática e o El Niño tende a piorar a frequência de eventos climáticos extremos. O El Niño costuma afetar as condições atmosféricas e oceânicas. Essas mudanças, por sua vez, podem influenciar nos padrões climáticos globais.

Por exemplo, o El Niño pode afetar a distribuição de calor e umidade na atmosfera, impactando potencialmente as temperaturas regionais e globais. Compreender esses mecanismos de feedback é crucial para avaliar com mais precisão os efeitos de longo prazo do El Niño e da mudança climática.

Neste post, explicamos a tendência de ocorrer eventos climáticos extremos cumulativos, em determinadas regiões do Planeta. Ou seja, o risco de virem à tona vários desastres climáticos ao mesmo tempo, na mesma localidade. 

Por essa razão, prever a chegada e intensidade do El Niño é sempre mais crucial. Várias ferramentas são usadas pelos meteorologistas para monitorar o El Niño na atmosfera. São elas: boias oceanográficas, modelos atmosféricos e dados de satélite. A seguir, vamos explicar a importância de cada uma dessas técnicas empregadas no monitoramento do El Niño.

>> Leia também: El Niño e Planeta mais quente podem trazer seca incomum à Amazônia em 2023

Boias oceanográficas: entenda como funcionam

Boias oceanogáficas para monitorar o clima e o El Niño_QGIS

O sistema de boias da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) é vital para monitorar o El Niño. É a partir dos dados das condições atuais, obtidos pelas boias oceanográficas, que os modelos atmosféricos fazem a previsão do fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS).

O sistema é implantado estrategicamente no oceano para coletar dados críticos, incluindo temperaturas da superfície do mar, altura das ondas, velocidade do vento e pressão atmosférica. Ao medir esses parâmetros, os cientistas podem obter informações sobre a complexa dinâmica do El Niño, bem como seu impacto nos padrões climáticos globais, nos ecossistemas marinhos e na pesca.

O sistema combina boias, sensores e cabos de amarração cuidadosamente projetados para suportar o ambiente marinho. As boias são construídas com materiais duráveis, proporcionando estabilidade e flutuação, para suportar a instrumentação anexa. Essas boias possuem sensores e instrumentos que coletam continuamente dados sobre vários parâmetros oceânicos e atmosféricos.

boias oceanográficas para monitorar o El Niño_QGIS

O El Niño influencia nos padrões de ondas e regimes de vento, o que pode ter implicações significativas nas áreas costeiras, nas atividades marítimas e na intensidade das tempestades. Ao monitorar a altura das ondas e a velocidade do vento, os cientistas podem avaliar as mudanças associadas ao El Niño e fornecer dados valiosos, para previsão do tempo e preparação para tempestades.

O El Niño pode causar mudanças nos padrões de pressão atmosférica, influenciando na circulação global e nos sistemas climáticos. As mudanças na pressão atmosférica também são monitoradas pelo sistema de boias. Essas medições ajudam a entender a dinâmica atmosférica associada ao El Niño, além dos seus efeitos nos padrões climáticos regionais e globais.

Os dados coletados pelo sistema de boias são transmitidos em tempo real, para análise nos centros de pesquisa e agências meteorológicas. São aplicadas técnicas e modelos sofisticados de processamento de dados, para interpretar as informações coletadas. Além das medições diretas, os meteorologistas ainda contam com sofisticados modelos de computador, para simular e prever o El Niño.

>> Leia também: El Niño chegou e pode atingir intensidade sem precedentes

Modelos atmosféricos: como são usados para monitorar o El Niño?

El Niño e anomalia da temperatura dos oceanos_QGIS

Os modelos atmosféricos simulam o El Niño, a partir de vários fatores que contribuem para seu desenvolvimento e progressão. Equações matemáticas complexas são usadas para representar os processos físicos que governam a atmosfera e os oceanos.

Ao simular o El Niño, os meteorologistas inserem dados sobre as atuais condições atmosféricas e oceânicas, como temperaturas da superfície do mar, padrões de vento e pressão do ar.

À medida que os modelos são executados, as equações são resolvidas interativamente, projetando a evolução dessas condições. Os modelos consideram as interações entre a atmosfera e o oceano, incluindo trocas de calor e umidade. Também incorporam mecanismos de feedback, como o feedback positivo entre temperaturas quentes da superfície do mar e ventos alísios reduzidos, característicos do El Niño.

Com isso, geram-se previsões de estados futuros da atmosfera e dos oceanos, incluindo a duração, intensidade e extensão espacial do El Niño. Essas previsões fornecem informações valiosas para entender os impactos potenciais do El Niño nos padrões climáticos regionais e globais.

Os modelos atmosféricos para o El Niño são conhecidos como Modelos Acoplados de Circulação Geral (CGCM’s) ou modelos acoplados oceano-atmosfera. Utilizam grades que dividem a superfície da Terra em pontos discretos, representando as variações espaciais nas condições atmosféricas e oceânicas.

Os modelos atmosféricos passam por refinamento e calibração constantes, com base em observações e dados históricos, para garantir mais precisão. Os resultados são comparados com observações do mundo real, para avaliar seu desempenho e fazer os ajustes necessários, melhorando sua confiabilidade.

Embora tenham avançado na previsão do El Niño, ainda existem incertezas associadas às simulações. Isso porque o El Niño é um fenômeno complexo e dinâmico, influenciado por múltiplos fatores. Capturar todas as suas complexidades em um modelo pode ser um desafio. Portanto, pesquisas contínuas e avanços nas técnicas de modelagem são essenciais, para aumentar a capacidade de prever e mitigar os impactos do El Niño.

>> Leia também: Previsão indica pico de El Niño no verão de 2024

O satélite usado para monitorar a presença do El Niño no oceano Pacífico

Imagem de satélite para monitorar o El Niño_QGIS

Sensores embarcados em satélites também são usados para monitorar a temperatura do oceano e os ventos de superfície, auxiliando na identificação e monitoramento de eventos do El Niño.

O satélite Jason-3 é um componente chave da série de satélites da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), projetado para monitorar com precisão as condições da superfície oceânica. O satélite coleta dados essenciais para aprimorar nossa compreensão da oceanografia global, variabilidade climática e previsão do tempo.

Equipado com instrumentos e sensores avançados, o satélite Jason-3 se concentra principalmente na medição da altura da superfície do mar, um parâmetro crítico para monitorar as correntes oceânicas, o aumento do nível do mar e os fenômenos El Niño/La Niña. Usando um altímetro de radar, o satélite mede com precisão a distância entre o satélite e a superfície do oceano, permitindo estimativas precisas da altura da superfície do mar.

Os dados coletados pelo satélite Jason-3 desempenham um papel fundamental em várias aplicações. Ajudam cientistas a rastrear e estudar os padrões de circulação oceânica, como as principais correntes, a exemplo da Corrente do Golfo, que afetam os sistemas meteorológicos e a dinâmica climática.

Além disso, as medições do satélite contribuem para avaliar o aumento do nível do mar, fornecendo informações valiosas para o gerenciamento costeiro, pesquisas sobre mudança climática e desenvolvimento de estratégias de adaptação ao clima.

>> Leia também: Oceanos mais quentes: o que esperar para o clima brasileiro?

Mais informações

O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro "Um século de secas". A obra analisa a influência de fenômenos como o El Niño e o oceano Atlântico nas secas ocorridas no Semiárido brasileiro, no período 1901-2016. 

*Post atualizado em: 01.07.2023, às 10h20. 

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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