Mapeamento mostra expansão da seca-relâmpago pelo Nordeste



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O monitoramento por satélite do Laboratório de Análise e processamento de Imagens de Satélites (Lapis) identificou um aumento no número de municípios com dias consecutivos de seca, em grande parte do Nordeste, nas últimas semanas.

O mapa mensal mostra a frequência das chuvas nas regiões brasileiras, no período de 17 de março a 15 de abril. As áreas em marrom indicam onde não ocorreu chuva, nos últimos 30 dias. Já as áreas em verde ou azul mostram chuvas regulares. Chama-se atenção para o aumento no número de municípios secos, na área central do Nordeste. O estado mais afetado continua sendo a Bahia.

Mapa do número de dias secos_QGIS

A atual situação de seca-relâmpago decorre de chuvas escassas ou irregulares, acompanhadas de altas temperaturas. A previsão é que na maior parte da quadra chuvosa (fevereiro a maio), o Semiárido receba chuvas abaixo da média histórica.

As secas-relâmpago (do inglês, flash drought) é um extremo climático de curta duração e forte intensidade, caracterizado por ausência de chuva associada às altas temperaturas. Essa nova tipologia de seca, que se tornou comum com a mudança climática, afeta severamente vegetações, ecossistemas e prejudica as colheitas.

Desde meados de março, um bloqueio atmosférico afeta a região, principalmente o Vale do Rio São Francisco. A imagem do satélite Meteosat, do último dia 20 de abril, mostra a dimensão da massa de ar quente e seco.

Massa de ar seco

Atualmente, um total de 504 municípios do Nordeste (ou 30% deles) decretaram Situação de Emergência, em razão da seca e estiagem. Os dados são da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa e Defesa Civil (Sedec/MDR).

Essa situação climática requer que as prefeituras estabeleçam um Plano de Contingência para adaptação à seca. Para isso, informações baseadas em dados de satélites são fundamentais, por parte dos estados e municípios.

>> Leia também: O La Niña acabou, e agora? Saiba como fica o clima nas regiões brasileiras

Áreas áridas do Brasil enfrentaram calor extremo de 5 °C acima da média

Mapa do calor extremo no Nordeste_QGIS

O Laboratório Lapis lançou um novo mapa de monitoramento da condição de calor extremo nas regiões brasileiras. Baseado em dados do satélite Meteosat Terceira Geração (MTG-I), o mapeamento destaca anomalias de temperatura máxima, no período de 07 a 13 de abril deste ano. O termo “anomalia” indica o desvio da temperatura de determinado momento, em relação à média histórica.

Você pode observar, no mapa, que o Semiárido brasileiro foi impactado por temperaturas de até 5 °C acima da média histórica, na última semana. Ou seja, as temperaturas estão muito mais altas na região do que eram no passado, com ondas de calor e dias com calor extremo mais frequentes.

No mapa, as cores em vermelho e rosa destacam áreas que estão se tornando mais quentes, em ritmo duas vezes maior do que as áreas subúmidas secas, ou seja, do que as áreas de Agreste (subúmidas secas). O estudo também concluiu que mais da metade das áreas de Agreste se tornaram semiáridas, nas últimas três décadas.

No mapa de calor extremo, as cores em vermelho e rosa destacam áreas que se tornaram mais quentes, em ritmo duas vezes maior do que as áreas de Agreste (subúmidas secas).

Sobre o Semiárido brasileiro, as áreas de calor extremo (em tons de vermelho e rosa, no mapa), apresentam as seguintes características: 1) Déficit severo de precipitação, aumentando o risco de incêndios florestais; 2) Baixos níveis das águas, que impactam diretamente o transporte fluvial e terrestre, afetando a economia da região; 3) Solo seco, com déficit de umidade a longo prazo.

As localidades que ficaram mais quentes coincidem exatamente com as terras que se tornaram áridas no Nordeste, nas últimas três décadas. Conforme mapeamento recente feito pelo Laboratório Lapis, foram identificadas áreas áridas em 8% das terras do Semiárido brasileiro. A pesquisa também concluiu que mais da metade das terras do Agreste se tornaram semiárido.

>> Leia também: Laboratório divulga previsão climática para as regiões brasileiras no próximo trimestre

Mapeamento mostra áreas com secas-relâmpago em abril

Mapa da seca no Norte e Nordeste_QGIS

O Laboratório Lapis lançou um novo mapa de monitoramento da situação climática nas regiões brasileiras. De acordo com o mapa do Índice de Precipitação Padronizado (SPI), no período de 01 a 10 de abril, as áreas em vermelho são as que enfrentam situação de seca-relâmpago atualmente (Veja no mapa acima, à direita).

Enquanto em meados de março a seca intensa estava concentrada na porção norte do Nordeste e em áreas da Amazônia (Veja no mapa acima, à esquerda), as áreas mais atingidas em abril vão desde o norte de Minas Gerais até áreas do Piauí e Maranhão. Nas demais regiões, a seca predomina apenas em áreas pontuais do Centro-Oeste e da região Norte. Já no Centro-Sul, houve registro de chuvas na média ou acima da média histórica.

O mapa foi processado no QGIS, com dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS). É um dos produtos de monitoramento semanal por satélite que fazem parte do portfólio do Laboratório Lapis.

>> Leia também: Calor extremo atingiu cerca de 60% da população brasileira em fevereiro

Os municípios do Semiárido que não recebem chuva há mais de dois meses

Mapa da cobertura vegetal_QGIS

Há pelo menos 30 dias, centenas de localidades do Semiárido não recebem chuva, predominando tempo seco e quente. Um total de 504 municípios decretaram situação de emergência, em razão da seca, que em alguns locais já dura mais de dois meses. A situação é reconhecida pelo Governo Federal, após o decreto feito pelo município e homologado pelo Estado.

Para o município conseguir esse reconhecimento, é necessário um plano de contingência à seca, elaborado pelas prefeituras, com levantamento de informações sobre a área afetada e das ações a serem implementadas. 

Mas você sabe a diferença entre seca e estiagem? No Brasil, os termos correspondem a eventos climáticos de intensidade diferentes. A estiagem é a ausência de chuva, prevista para determinado período, a redução na sua quantidade ou mesmo o atraso em sua chegada. Isso compromete as reservas de água locais, causando prejuízos à agricultura e à pecuária.

Já as secas-relâmpago são períodos abruptos de baixa precipitação, levando ao início rápido de uma seca, acompanhadas por altas temperaturas. O calor extremo aumenta a evaporação da água do solo e a transpiração das plantas, levando à queda repentina da umidade do solo. Nessas condições, as lavouras e a vegetação começam a morrer muito mais rapidamente do que durante secas prolongadas.

O mapa acima mostra a atual situação da cobertura vegetal no Semiárido brasileiro. A partir do mapa do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), é possível visualizar os impactos da seca sobre a cobertura vegetal na região.

Em 2009, o Laboratório implantou um protótipo para gerar o mapa do NDVI de frequência diária, para todo o Brasil. Esse modelo foi aperfeiçoado e calibrado, de modo que hoje, são divulgados mapas semanais cobrindo todo o território nacional. O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km.

>> Leia também: Meteorologista explica por que chegada do El Niño ainda vai demorar

Mais informações

O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro "Um século de secas", uma referência no assunto. Para adquirir o Livro, acesse a nossa Livraria sem fins lucrativos.

Os mapas e produtos de satélites utilizados neste post fazem parte do portfólio de produtos de monitoramento do Laboratório Lapis. Se você quer aprender a dominar o software livre QGIS, para gerar mapas e produtos de monitoramento por satélite, você tem a oportunidade de passar 01 inteiro sendo treinado pela equipe do Laboratório Lapis. Para dominar as Geotecnologias, até o nível avançado, inscreva-se para o Curso de QGIS “Mapa da Mina”

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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