Por que as recentes ondas de calor e frio preocupam climatologistas?



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O final de junho e início de julho foi marcado por extremos climáticos, em diferentes regiões do Globo. Enquanto na América do Sul, houve ondas de frio intenso, propiciando inclusive a formação de geada e neve, como ocorreu no Centro-Sul do Brasil, na América do Norte e no Ártico, as temperaturas atingiram picos sem precedentes na história.

Essas temperaturas extremas, em diversas regiões, têm chamado atenção dos climatologistas. Estudos sobre as consequências do aquecimento global ainda são recentes e a busca por compreender esse processo desafia os especialistas.

A última semana de junho, no Hemisfério Norte, é um bom exemplo de como a atmosfera pode produzir condições meteorológicas extremas, simultaneamente.

Uma coisa é certa: não apenas a variabilidade climática natural, mas também o aumento das temperaturas globais foram os fatores que causaram o derretimento de grandes quantidades de gelo, nas águas do Ártico.

O caso é mesmo preocupante, até porque alguns modelos climáticos preveem um oceano Ártico sem gelo, durante pelo menos parte do ano, até fins do século XXI.

As imagens acima mostram as anomalias de temperatura da superfície terrestre, na América do Norte, no último dia 27 de junho. O termo “anomalia” expressa o quanto a temperatura se desviou, para mais ou para menos, em relação à média histórica.

Ou seja: as temperaturas do dia 27 de junho foram comparadas com a média do mesmo dia, da série de dados dos anos 2014-2020. Essas imagens foram obtidas a partir do satélite Landsat, operado pela Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), dos Estados Unidos.

Sendo assim, as áreas em azul mostram regiões com temperatura abaixo da média, em relação ao período 2014-2020, no último dia 27 de junho, enquanto as áreas em vermelho mostram as regiões com temperatura acima da média 2014-2020, no mesmo dia.

Desde o fim de junho, o Oeste da América do Norte foi atingido por uma forte onda de calor, sem precedentes naquela região. O Canadá foi o país mais afetado por esse fenômeno atmosférico extremo. Ali, a temperatura chegou aos 49,6 oC, na pequena vila de Lytton, na província de Colúmbia Britânica.

Um valor recorde, ocorrido no dia 29 de junho, e que poucos poderiam imaginar que ocorresse tão cedo. O último extremo havia ocorrido no dia 5 de julho de 1937, quando os termômetros marcaram 45 oC.

Na segunda metade do século XX, o pico de temperatura mais alto no Canadá foi de 36,7 oC, em 1976. A segunda maior temperatura registada, neste século, ocorreu em 2004, com a marca de 36,5 oC.

Depois do recorde histórico de calor no Canadá, os moradores de Lytton tiveram que abandonar suas casas, na noite do dia 30 de junho, em razão de um incêndio florestal que se alastrou na região.

Outra informação importante, também da NASA, a partir de dados obtidos do satélite Landsat, mostra um acentuado declínio, desde o início do século XXI, da extensão de gelo, que cobre o oceano Ártico.

Tal como explica a NASA, a quantidade de gelo que existe lá varia ao longo do ano: atinge o seu pico em março, no inverno, mas no verão, derrete-se em grandes volumes, chegando ao mínimo, em setembro.

O que mudou desde 1990? Ciclos de variabilidade natural, como é o caso da Oscilação Ártica, são conhecidos por desempenhar um papel na extensão do gelo, no Ártico.

Contudo, esse declínio acentuado não pode ser explicado apenas pela variabilidade natural. O aumento crescente das temperaturas globais também contribuiu para derreter grandes quantidades de gelo, no Ártico.

Para o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), a redução do gelo oceânico reduz a diferença de pressão atmosférica, entre o Ártico e as latitudes médias, o que enfraquece a corrente de jato.

A corrente de jato geralmente afeta as condições de tempo, no dia a dia, à medida que desloca os sistemas frontais.

Uma corrente de jato mais fraca pode fazer com que uma onda de calor ou onda de frio possa ficar por mais tempo, “presa” em uma região. Sendo assim, as ondas de Rossby confinam o ar quente, formando uma bolha de ar quente estático, de alta pressão, que se estica desde a Califórnia até os territórios do Ártico.

As ondas de Rossby são ventos fortes de alta-altitude. Esses ventos fortes definem a corrente de jato e são importantes para determinar o tipo de tempo que teremos, em certa área, ao longo de um período de dias a semanas.

Esses extremos climáticos têm afetado a produção e o preço dos alimentos, em diversas regiões do mundo, de modo que a agricultura é um dos setores mais afetados, pelo processo de mudança climática.

É por isso que a sustentabilidade no setor agrícola tem se imposto, pela necessidade de elevar a produtividade. A área de geoprocessamento é uma das mais promissoras, para profissionais que atuam ou querem atuar com consultorias agrícolas.

Se você tem interesse nessa área, participe da transmissão AO VIVO, neste domingo, às 11 horas, com o geoprocessador e meteorologista Humberto Barbosa. Para ativar o lembrete da Transmissão, clique no link abaixo.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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