Chuvas podem chegar mais cedo e antecipar plantio no Centro-Sul



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Nos últimos três anos, produtores rurais enfrentaram muita incerteza climática nas áreas produtoras de grãos, no Centro-Sul do Brasil. Em razão do La Niña, as chuvas costumavam chegar atrasadas, em volumes insuficientes ou sua distribuição era irregular na região. Mas esse cenário mudou e agora o clima tende a ser favorável para a primeira safra 2023-2024.

De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), com a recente confirmação do El Niño, as chuvas devem chegar mais cedo às áreas produtoras de grãos, no Centro-Sul brasileiro. Neste post, explicamos detalhes sobre a chegada do El Niño e as perspectivas para o clima, nas regiões brasileiras. 

O mapa abaixo mostra a previsão sazonal para o próximo mês de agosto. O destaque é a possibilidade de chuvas acima da média no Centro-Sul, na área que abrange desde o Mato Grosso do Sul e São Paulo até o Rio Grande do Sul. Vale lembrar que essa foi uma das áreas mais atingidas pela seca, durante os últimos três anos de La Niña.

Previsão climática para agosto, sob o El Niño_QGIS

"A partir de julho, já devem começar as chuvas, com uma distribuição mais homogênea a partir de agosto. Com a condição climática favorável, em razão do retorno da normalidade das chuvas, é possível até mesmo que os produtores antecipem o plantio de milho e soja nessas áreas", ressalta Humberto.

Com a recente mudança do padrão climático para El Niño, a expectativa é de chuvas acima da média, na região. O mapa ainda mostra que o Sudeste e Centro-Oeste também terão chuvas em torno do esperado para o período. Dessa forma, não haverá alteração no padrão de chuva nessas regiões, de modo que o clima tende a ser favorável à produção agrícola, salvo em possíveis situações de eventos climáticos extremos.  

Humberto alerta que ainda é cedo para prever a intensidade dessas chuvas. “Geralmente, o El Niño traz chuvas abundantes para o Centro-Sul brasileiro, mas há risco de aumentar os eventos climáticos extremos, como excesso de precipitação e granizo, que podem levar a perdas nas safras”, explica o meteorologista.

O mapa abaixo contextualiza a atual situação da umidade do solo nas regiões brasileiras. O destaque é já haver uma melhoria significativa da quantidade de água na superfície do solo, no Mato Grosso do Sul, sudoeste de São Paulo e na região Sul.

Mapa da umidade do solo_QGIS_baseado em dados de satélite

Além da previsão climática favorável, o cenário global da comercialização de grãos também oferece oportunidades ao mercado brasileiro. Isso em razão das perdas na produção agrícola da Argentina e das incertezas com a guerra na Ucrânia.

>> Leia também: El Niño chegou e pode atingir intensidade sem precedentes

Seca histórica na Argentina pode favorecer o mercado brasileiro

produção e colheita de soja_Argentina_Ucrânia

A seca histórica que atingiu a Argentina, nos últimos anos, agravou sobremaneira o cenário de crise econômica no país. Nesta terça-feira, dia 13 de junho, a Bolsa de Grãos de Rosário alertou recentemente para a redução significativa na produção de milho e soja deste ano.

A Bolsa de Grãos cortou ainda mais sua previsão para a safra de soja 2022-2023, para 23 milhões de toneladas, uma queda de quase 50% em relação à temporada anterior. Com o milho, a previsão agora é de 32 milhões de toneladas, uma redução de 37%, em relação à temporada anterior.

Grande parte da produção de grãos da Argentina é transportada por caminhão, sendo que três quartos dela passa pelos portos fluviais de Rosário. O principal porto de grãos da Argentina está registrando o menor número de caminhões com soja e milho, em pelo menos 22 anos.

A Bolsa informou que a queda nos caminhões foi ainda mais pronunciada para o milho, em parte devido a uma colheita atrasada. Isso é consequência da seca histórica e da onda de calor de março, que provocaram enormes perdas na produtividade agrícola da Argentina.

A Bolsa de Grãos de Rosário ainda informou, em relatório, que cerca de 280 mil caminhões com soja e milho entraram no porto, no período de março a maio. Essa quantidade corresponde a menos da metade no mesmo período de 2022, sendo 62% abaixo da média dos últimos cinco anos.

A colheita da atual safra de soja da Argentina está quase concluída, com produção total prevista para apenas 23 milhões de toneladas, muito abaixo dos rendimentos dos anos anteriores, para a principal safra comercial do país. A atividade da colheita de milho tende a se intensificar, com o encerramento da safra de soja.

A Argentina é o maior exportador mundial de óleo de soja processado e farelo, mas pode perder pelo menos parte dessa liderança para o Brasil, por conta dos impactos da seca na produção. É também o terceiro maior exportador mundial de milho e um importante produtor de trigo. A situação da Argentina levará a uma atenção maior para o mercado brasileiro de grãos.

A melhoria nas chuvas nas regiões produtoras do Brasil, a partir de agosto, será importante para o início do plantio de soja e milho. O plantio antecipado vai ajudar o mercado brasileiro a aproveitar a oportunidade e ampliar as exportações desses produtos.

>> Leia também: Como utilizar mapas da umidade do solo para reduzir riscos agrícolas?

Guerra na Ucrânia também pode afetar mercado de grãos

Plantio de trigo na Argentina_Seca histórica

Além da seca na Argentina, incertezas no mercado global de grãos também podem favorecer as exportações dos produtos agrícolas brasileiros. É o caso das consequências da Guerra na Ucrânia, sobre o mercado mundial de produtos agrícolas.

Na última segunda-feira, dia 12 de junho, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antônio Guterres, disse estar preocupado com a possibilidade de a Rússia deixar o acordo conhecido como Iniciativa dos Grãos do Mar Negro, caso os obstáculos aos seus próprios embarques de grãos não sejam removidos.

O acordo negociado pelas Nações Unidas e pela Turquia, em julho do ano passado, garantiu a retomada da exportação segura de grãos e fertilizantes, durante a guerra, a partir de três portos ucranianos no Mar Negro.

O objetivo do pacto de grãos é manter o abastecimento e evitar uma crise global de alimentos. As Nações Unidas sempre disseram que o acordo comercial de grãos do Mar Negro beneficia os países mais pobres, ao garantir que os preços dos alimentos não voltem a subir.

A ONU afirma estar trabalhando para manter a iniciativa do Mar Negro e, ao mesmo tempo, facilitar as próprias exportações russas de alimentos e fertilizantes. As exportações russas não estão sujeitas a sanções ocidentais, impostas após a invasão da Ucrânia, desde fevereiro de 2022.

Porém, Moscou e os exportadores russos alegam que as restrições a pagamentos, logística e seguros representam uma barreira aos embarques. O pacto do Mar Negro previa a remoção desses entraves.

Na sexta-feira, dia 09 de junho, um porta-voz das Nações Unidas disse que ajudou a aumentar as exportações russas, facilitando um fluxo de navios para seus portos, além de reduzir as taxas de frete e seguro.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira, dia 13 de junho, que considera retirar o país do acordo porque demandas específicas não foram atendidas. O governo de Moscou afirma que o Ocidente não cumpriu as promessas de levar produtos agrícolas russos aos mercados estrangeiros. Com isso, a Rússia reduziu os embarques de grãos do Mar Negro.

O porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, admitiu ontem que alguns obstáculos à exportação de grãos e fertilizantes russos, de fato, ainda permanecem. Ele justificou que a ONU não possui todas alavancas de poder para remover os entraves. 

A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores produtores agrícolas do mundo, principalmente de produtos como trigo, cevada, milho, colza, óleo de colza, semente e óleo de girassol. A Rússia também domina o mercado de fertilizantes. 

>> Leia também: Oceanos mais quentes: o que esperar para o clima brasileiro?

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COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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