Uma novidade na previsão climática para as regiões brasileiras


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Conforme atualização da Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte Americana (NOAA), do último dia 14 de janeiro de 2021, o La Niña continuará presente no oceano Pacífico, embora com intensidade mais moderada, até o final de março.

O fenômeno, que consiste na manutenção das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial mais frias que o normal, vai permanecer ativo até o final de março, devendo perder força a partir de abril. Essa previsão é consensual entre os especialistas da Agência, com 95% de chance de se confirmar.

Já no período de abril a junho, existe maior probabilidade de ocorrer situação de neutralidade climática, no Pacífico, ou seja, sem a presença de La Niña ou de El Niño.

Mesmo assim, como a atmosfera demora a reagir à mudança na temperatura das águas, daquela região do Pacífico, a influência do La Niña sobre o clima global ainda deve persistir, até junho de 2021.

Previsão climática para as regiões brasileiras no primeiro trimestre

Imagem de satélite da chuva na última semana, com dados CHIRPS

Imagem de satélite da chuva na última semana, com dados CHIRPS.

O Instituto de Pesquisa Internacional para o Clima e Sociedade (IRI), da Universidade da Columbia, alinhado aos pesquisadores da NOAA, indica previsão de chuvas abaixo da média, para o primeiro trimestre de 2021, no Sul do Brasil.

Os especialistas do IRI chamaram atenção para a possibilidade de veranicos, a partir de fevereiro, principalmente no oeste do Rio Grande do Sul. No período de abril a junho, as chuvas ficarão abaixo do normal, na região Sul.

Neste mês de janeiro, as chuvas devem continuar em torno da média, no Centro-Sul, concentrando-se sobre o Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e grande parte da região Centro-Oeste.

Todavia, em um cenário de La Niña, como o atual, não apenas o Sul do Brasil tende a enfrentar veranicos, mas também parte do Brasil central, mais precisamente, áreas do centro-sul de São Paulo e do sul do Mato Grosso do Sul terão chuvas abaixo da média. Já na maior parte do Sudeste e do Centro-Oeste, o trimestre receberá chuvas em torno da média.

O aquecimento do Atlântico Norte, nos últimos meses, tem favorecido a influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), nas chuvas da região Norte. Por isso, a previsão é de chuva acima do normal, especialmente entre Roraima e Amapá, nos próximos meses.

Tendência de temperaturas neutras no Atlântico Sul. E agora?

Monitoramento da temperatura dos oceanos e presença do La Niña

Monitoramento da temperatura dos oceanos e presença do La Niña no Pacífico.

Os meteorologistas continuam de olho na tendência das temperaturas do Atlântico Sul, nos próximos meses. Elas são decisivas para definir como ficará o clima nas regiões brasileiras, principalmente no Semiárido.  

De acordo com o mapa de monitoramento dos oceanos, do último domingo, dia 17 de janeiro, na costa do Nordeste brasileiro, houve certa melhoria nas temperaturas superficiais do Atlântico Sul, nas últimas semanas. Foi identificada uma tendência de neutralidade, nessa área oceânica, para os próximos meses, o que é favorável para o Nordeste, em um cenário de La Niña. 

Já próximo à costa do Sul e Sudeste do Brasil, as águas aparecem mais frias que o normal, em relação à média de longo prazo (período de 1981-2010). 

Mas os especialistas alertam que é preciso que essa tendência de redução nas temperaturas do Oceano se mantenha, para que possa exercer influência positiva nas chuvas da região Nordeste.

O aquecimento das águas do Atlântico, nos últimos meses, bem como a continuidade das águas frias no Pacífico (La Niña), modificaram o panorama climático do verão, no Nordeste.

As projeções indicam que as chuvas devem melhorar somente a partir de março. É claro que tudo vai depender da temperatura do Atlântico Sul, nos próximos meses. Se confirmada a tendência de neutralidade nas temperaturas dessa área oceânica, próxima à costa do Nordeste, será um cenário favorável e o volume de chuvas tende a aumentar.

A projeção indica que, durante o primeiro trimestre, as chuvas para o Nordeste ficarão abaixo da média, principalmente em fevereiro, na faixa norte da região.

Em Matopiba, área que resulta da confluência de territórios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, enfrentará períodos de estiagem frequentes, pelo menos até março. Isso pode afetar ainda mais a produção de grãos na região, principalmente de soja e milho.

Laboratório chama atenção para veranicos em fevereiro

Previsão climática sazonal para fevereiro e março.

Previsão climática sazonal para fevereiro e março. Fonte: ECMWF. Elaboração: Lapis.

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) atualizou neste domingo, dia 17, a previsão do clima sazonal para as regiões brasileiras, nos meses de fevereiro e março.

O prognóstico é baseado nas estimativas do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF, da sigla em inglês), que apresenta uma distribuição mais coerente com o atual cenário de La Niña moderado, bem como da momentânea neutralidade no Atlântico Sul.

De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório Lapis, o modelo do ECMWF utiliza projeções consensuais, a partir da análise das projeções climáticas, indicadas por 17 outros modelos climáticos.

As previsões sazonais foram calculadas com uso de modelos climáticos semelhantes (model ensembles), que ajudam a definir a incerteza da previsão.

Barbosa destaca que ainda há um cenário de incerteza, quanto ao que vai ocorrer, nos próximos meses, e que haverá muito irregularidade na distribuição das chuvas, nas diferentes regiões do Brasil, nos próximos meses.

A seguir, confira a análise da possibilidade de chuva, nos meses de fevereiro e março, conforme mapas elaborados pelo Lapis, a partir dos resultados do modelo do ECMWF.  Os mapas acima correspondem às “anomalias” de precipitação, ou seja, ao quanto o volume de chuva previsto será maior ou menor, em relação à média histórica.

Fevereiro – Chuva acima da média na Amazônia (áreas em verde, no mapa). A área central do Brasil e a região Sul devem receber chuvas em torno da média histórica. No Nordeste, haverá menos chuva que o normal.

Março – A área central e norte da Amazônia, ainda vai continuar com chuvas acima da média. No Nordeste, é esperada melhoria no volume de chuvas. Porém, na faixa norte da região, os volumes ainda podem continuar abaixo da média esperada. 

O Sudeste, Centro-Oeste e parte do Sul devem ter chuvas em torno da média histórica. O estado do Rio Grande do Sul pode continuar com chuvas abaixo da média.

Imagem de satélite semanal destaca áreas mais secas no Brasil

Imagem de satélite Meteosat-11 mostra efeitos da seca sobre cobertura vegetal no Brasil

Imagem de satélite Meteosat-11 mostra efeitos da seca sobre cobertura vegetal.

O mapa semanal da cobertura vegetal, elaborado pelo Lapis, a partir do índice padronizado de vegetação (NDVI), mostra as áreas afetadas pela seca, nas diferentes regiões brasileiras.

As áreas vermelhas do mapa destacam a intensidade da seca no Nordeste setentrional. O Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, além do nordeste da Bahia, enfrentam situação crítica de estresse hídrica, com vegetação completamente seca.

As áreas em amarelo, no mapa, correspondem a registros de estiagem moderada, atingindo áreas do Rio Grande do Sul, sul do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, oeste de São Paulo, nordeste de Minas Gerais e região de Matopiba.  

As áreas em verde, mostradas na imagem de satélite, correspondem aos locais onde a vegetação se mantém vigorosa, com umidade do solo suficiente para se desenvolver. 

Conclusão

A novidade que surge, na previsão climática sazonal, é a tendência de neutralidade das águas superficiais do Atlântico Sul, nos próximos meses. Esta semana, já foi observado um processo de redução nas temperaturas dessa área oceânica, o que pode beneficiar o Semiárido brasileiro com mais chuvas.

Diante da manutenção do La Niña, no Pacífico equatorial, caso se confirme essa tendência de neutralidade do Atlântico Sul, será importante para a produção agropecuária brasileira, tanto do agronegócio quanto da agricultura familiar.

Ao longo deste post, mostramos as projeções de chuvas para as regiões brasileiras, em fevereiro e março, diante do atual cenário de temperatura dos oceanos.

De forma geral, serão esperadas: chuvas em torno da média histórica, na maior parte do Centro-Sul do País, com possibilidade de veranicos na região Sul e em parte da área central do País; precipitações volumosas na Amazônia e abaixo da média no Nordeste.

É claro que ainda devemos aguardar como vai se configurar o cenário das temperaturas do Atlântico Sul, que serão decisivas para definir o volume de chuvas no Nordeste.

*Post atualizado em: 19.01.2020, às 14h16.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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