La Niña volta em novembro. E agora, como fica o clima brasileiro?



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O La Niña voltou em meados de outubro de 2021. Confira o post atualizado sobre a volta do fenômeno e sua influência no clima, nas regiões brasileiras, nos próximos meses. Para acessar o post atualizado, clique aqui

Tudo indica que, no final deste ano, o fenômeno deva reaparecer no cenário climático global. E por que estamos falando isso? Qual a chance de o La Niña retornar? O que o La Niña significa, desta vez, para o clima brasileiro?

O fato é que a chance de retorno do La Niña aumentou. Na última quinta-feira, dia 12 de agosto, o Centro de Previsão Climática (CPC), dos Estados Unidos, avaliou que há 70% de chance de o fenômeno climático La Niña retornar, entre novembro deste ano e janeiro de 2022.

Atualmente, estamos em um período que os meteorologistas chamam de neutralidade climática.

De acordo com a publicação do CPC, os modelos climáticos sugerem o início de um La Niña, provavelmente de intensidade fraca, nos próximos meses, devendo persistir até janeiro de 2022, ou seja, durante boa parte do verão no Brasil. 

Qual será a intensidade desse fenômeno, porém, ainda é uma questão de debate entre os especialistas. Consultamos o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), para entender qual deve ser o cenário climático no Brasil, sob o La Niña, e seus impactos para a agricultura.

O último La Niña durou até abril deste ano. No vídeo acima, confira como as temperaturas dos oceanos têm se apresentado, desde maio deste ano, em relação à média de longo prazo (1981-2010).

São essas temperaturas que definem a configuração de um La Niña (temperaturas mais baixas que o normal, por três meses consecutivos), El Niño (temperaturas mais altas que o normal) e neutralidade climática (em torno da média histórica).

O La Niña vai impactar novamente a agricultura brasileira?

Humberto Barbosa afirma que o retorno do La Niña preocupa todo o setor agrícola brasileiro, sobretudo do Centro-Sul do País. Desde o ano passado, a região enfrenta uma seca prolongada e temperaturas acima do esperado, pelos climatologistas.

O clima irregular, há mais de um ano, vem provocando perdas expressivas, nas mais diversas lavouras. Com a reserva hídrica já comprometida, um atraso nas chuvas ou a permanência de baixos volumes de precipitação, aumenta a preocupação do setor produtivo. 

Dessa forma, ainda que não seja possível definir a intensidade do La Niña e, consequentemente, sua influência para a nova safra de verão (2021/2022) do Brasil, a previsão de volta do La Niña é recebida com preocupação.

O fato é que essa condição climática afeta os principais setores produtivos do Brasil e, consequentemente, a sociedade.  

O retorno do fenômeno frustra as expectativas de recuperação da produção mundial das principais commodities agrícolas. A produção mundial de alimentos deve ficar comprometida novamente. E o risco é que esse impacto promova movimentos de alta nos preços, na maioria dos alimentos.

O La Niña anterior, em 2020, atrasou as chuvas, retardando a safra e causando queda em sua produtividade, principalmente no caso do milho. Caso o La Niña se intensifique ou dure por um longo período, pode dificultar a previsão de preços agrícolas, alerta Humberto Barbosa.

Até quando vai durar a seca do Centro-Sul?

O mapa acima destaca a atual situação da estiagem no Brasil, a partir estimativa da umidade do solo. Esse mapa é uma das mais importantes ferramentas agrometeorológicas, por informar sobre as áreas que enfrentam maior estresse hídrico (seca) atualmente e que não estão mais propícias à produção agrícola.

O que chama atenção é que a secura no solo continua predominando, em quase todo o Brasil. Essa situação vem sendo observada, desde setembro do ano passado, e mostra os níveis críticos de seca, nas regiões brasileiras. A exceção é apenas o extremo Sul do Brasil, principalmente os estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e a porção norte da região Norte.

Esse mapa da umidade do solo foi elaborado pelo Laboratório Lapis, com uso de dados do satélite SMOS. O cálculo do percentual de umidade do solo foi feito no software QGIS.

Se a previsão climática se confirmar, o La Niña pode novamente trazer dificuldades para o produtor do Rio Grande do Sul, que já enfrentou uma seca severa, na safra de verão de 2020/2021, impactando diretamente a produção de grãos no estado.

Além disso, Santa Catarina e Paraná também já enfrentam os efeitos da seca, que pode ficar ainda mais severa, se o La Niña evoluir para intensidade forte, a partir de novembro. O produtor terá de planejar bem a sua atividade, para a safra 2021/2022, em particular, a soja brasileira, que pode ser uma das mais afetadas.

“Os efeitos do La Niña, como a seca, criam distúrbios nutricionais e hormonais na planta, provocando queda de folha, flores e vagens. Isso afeta a qualidade e o volume da produção”, explica Humberto Barbosa.

Uma das fases mais intensas do último La Niña foi entre outubro e dezembro de 2020. O fenômeno causou seca na entressafra, em alguns países produtores, e condições adversas para a colheita, em outros.

Em alguns municípios do Centro-Sul, onde houve seca forte, causada pelo La Niña, que acabou em abril deste ano, a umidade do solo ainda é muito crítica, com déficit hídrico e demorando a se restabelecer.

Algumas áreas do Centro-Sul devem continuar secas, até o fim deste ano. De acordo com Humberto Barbosa, as chuvas serão irregulares e abaixo da média, na maior parte da região. A seca deve persistir durante a atual primavera, com risco de estiagem também no verão, no Rio Grande do Sul, principalmente no oeste e no sul do estado.

Outro setor prejudicado, se esse cenário se confirmar, é o setor elétrico, no Centro-Sul. A região enfrenta chuvas abaixo da média, há vários alguns meses, e isso deve afetar os reservatórios das hidrelétricas, além da agricultura. Acesse este post e confira uma análise completa sobre esse assunto.

O La Niña costuma trazer condições de tempo mais seco, para a América do Sul. Para o Brasil, mais chuvas para a região Nordeste, temperaturas mais baixas do que o normal, durante o verão, no Sudeste.

Há ainda atraso na chegada das chuvas, no Centro-Oeste e Sudeste, além de um verão mais seco, na região Sul. Entretanto, esses efeitos podem variar de acordo com a intensidade do fenômeno.

Na primavera com La Niña, poderá ocorrer atraso na chegada das chuvas, principalmente na região Sul, similar ao que ocorreu na safra 2020/2021.

Entenda por que tanta seca no Brasil

Além do La Niña, existem outros processos que explicam por que o Centro-Sul está tão seco, nos últimos meses.

Embora o La Niña possa influenciar os padrões de chuva, ao longo do ano, efeitos de longo prazo também estão em jogo. Um é difícil de evitar, por causa da mudança climática: o ar mais quente.

“O ar quente retém mais umidade, então o aquecimento da atmosfera está sugando mais água das plantas e do solo, dia após dia”, disse Humberto Barbosa

Isso significa que o impacto do ar mais quente pode já estar se registrando no solo. “O normal realmente está mudando para um estado mais seco e essa tendência está se tornando clara”, afirma o meteorologista.

No curto prazo, entretanto, o solo mais seco pode ampliar ondas de calor, como os recordes recentes nos Estados Unidos e Canadá. As secas levam a solos mais secos, o que leva a temperaturas mais altas. É um ciclo que se retroalimenta.

Uma corrente de ar, chamada célula Hadley, se expande, direcionando o ar seco para o Sudoeste da América do Sul. O ar úmido e quente sobe próximo ao Equador e, em seguida, diminui a maior parte de sua umidade, como chuva, antes de fluir em direção aos dois polos. 

Uma corrente vai para o norte, a outra vai para o sul. Essas correntes descem de volta para a superfície mais seca do que no início do ciclo.

Os cientistas especularam, durante anos, que a mudança climática expandiria a célula Hadley, empurrando sua borda mais seca, em cada hemisfério, para mais perto dos polos. 

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado esta semana, destacou que isso está acontecendo, embora apenas no Hemisfério Sul. No Hemisfério Norte, a mudança até agora está dentro de uma faixa que pode ser explicada pela variabilidade natural.

O vídeo acima mostra as correntes de jato, nos hemisférios. Observe, no Hemisfério Sul, essas “línguas” verdes são os ventos fortes que, dependendo da sua posição e velocidade, jogam ar quente sobre regiões do Brasil, aumentando a situação de seca.

Veja a previsão climática para os próximos meses

Os mapas acima mostram a previsão climática, para as regiões brasileiras, no período de setembro a dezembro deste ano. A previsão foi feita pelo Laboratório Lapis, com informações do modelo climático ECMWF.

As áreas em verde, indicam chuvas acima da média histórica; em branco, precipitação em torno da média; e em bege, amarelo ou marrom, chuvas abaixo da média. 

*Post atualizado em: 18.10.2021, às 14h03.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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