La Niña e estiagem em maio ameaçam segunda safra de milho



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Mesmo com o La Niña mais fraco e prestes a desaparecer, o fenômeno continua causando impactos no clima, em todo o mundo. A principal consequência do La Niña é a seca, que atinge grandes regiões produtoras de alimentos. Esse padrão climático já deixou sua marca na Austrália, Indonésia, América do Norte e América do Sul, incluindo grande parte do Brasil.

Embora os efeitos do La Niña se apresentem de diferentes formas, a depender da região geográfica, o fenômeno costuma causar estiagem, em alguns locais, com escassez de água e baixa umidade do solo, enquanto em outros, provoca inundações, com excesso de chuva.

Em razão dessas situações extremas, é comum que o La Niña venha acompanhado de prejuízos ao setor agropecuário, em diversos locais, encarecendo os preços dos alimentos.

E desta vez, não foi diferente. Mesmo se tratando de um La Niña com intensidade fraca, trouxe preocupações ao mercado internacional de alimentos. Agricultores e varejistas de produtos agrícolas estão de olho na atual situação do La Niña e seus impactos, especialmente a estiagem.

O atual cenário climático também tem preocupado governos mundiais, entre os quais cresce o temor de inflação, que agrava a situação de pandemia, em vários países.

A crescente demanda, na China, pelo consumo de mais alimentos, associada à queda da produtividade, decorrente dos impactos do La Niña, têm resultado no aumento dos preços dos alimentos, principalmente de grãos.

>> Leia também: Radiografia atualizada da seca no Brasil, vista a partir de mapas

Previsão de estiagem causa reviravolta no mercado de produtos agrícolas

No Brasil, nos últimos três meses, a maioria das áreas agrícolas receberam apenas 60%, da quantidade normal de chuva. E a estimativa de seca, nas principais regiões produtoras, neste mês de maio, já mostra repercussões negativas, no mercado internacional.

Os preços do milho mais que dobraram, no período de um ano. A seca tem prejudicado a primeira, das duas safras anuais de milho, no País, e agora já ameaça a segunda safra.

É por isso que produtores rurais brasileiros continuam ansiosos por chuva. De acordo com o meteorologista do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), a maior preocupação, nesse cenário climático, são as reverberações da seca.

“Quando o solo está seco, predomina baixa umidade superficial, a energia do sol se concentra, no aquecimento do ar, em vez de evaporar a água. Isso aumenta as temperaturas, o que diminui ainda mais a umidade do solo, permitindo que a seca se torne ainda mais extensa”, explica Humberto Barbosa. 

O Centro de Previsão do Clima, dos Estados Unidos, informou que o La Niña vai desaparecer, a partir de junho. Para a instituição norte-americana, há 46% de chance de o fenômeno retornar, no último trimestre de 2021, e 41% de probabilidade de o Pacífico permanecer neutro, durante o período.

Mas o diagnóstico não é unânime, entre os especialistas. Algumas agências, como o Australian Bureau of Meteorology, já declararam que o La Niña acabou, não estando mais presente no Pacífico.

>> Leia também: A tecnologia para reduzir os impactos da seca agrícola

Mapa destaca baixos volumes de chuva no Centro-Sul e em áreas do Nordeste

De acordo com a imagem de satélite atualizada, na última semana, os volumes de precipitação continuaram baixos, em algumas regiões do Brasil. A situação é mais grave no Centro-Sul, que inclui todo o Sudeste, Centro-Oeste e quase todo o Sul do Brasil.

O mapa também destaca predomínio de seca intensa, no centro-sul do Nordeste, na última semana. Na porção norte da região, houve melhoria significativa, nos volumes de chuva registrados.

A imagem de satélite acima destaca informações valiosas sobre os volumes de chuva, na última semana, em todas as regiões brasileiras. A ferramenta foi elaborada pelo Laboratório Lapis, com uso de dados de satélites, do programa Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS). O software utilizado para elaboração do mapa foi o QGIS.

O CHIRPS permite o acesso a séries temporais gratuitas, de dados de satélites, inclusive para as regiões mais remotas do mundo. Nesses locais, a rede de estações pluviométricas costuma ser escassa ou até mesmo inexistente.

>> Leia também: Atualização do La Niña e um método para monitorar secas agrícolas

Abril seco aumenta tensão nas lavouras de café e cana-de-açúcar

O inverno só começa em junho de 2021. Embora ainda falte mais de um mês de primavera, o Laboratório Lapis conferiu as tendências da previsão climática, para o início do inverno, nas regiões brasileiras.

No Centro-Sul, tem início agora a temporada de estiagem, que deve ir até outubro. O Sudeste e Sul enfrentam, atualmente, um bloqueio atmosférico, em razão de uma forte massa de ar seco, sobre essas regiões, que dificulta o avanço de frentes frias e a formação de nebulosidades.

O início da safra 2021/22 de cana-de-açúcar é prejudicado pela falta de chuvas, especialmente em áreas de São Paulo, Goiás e Minas Gerais. A seca no primeiro trimestre de 2021, num período que deveria ser mais chuvoso, atingiu fortemente o cinturão de café e cana-de-açúcar.

A negociação de açúcar e café, nas bolsas de valores, tem sido volátil, e os preços podem reagir ao atraso das chuvas de primavera, decisivas do potencial das colheitas de 2021/22, no Brasil.

A preocupação dos contratos futuros do açúcar e do café, negociados na bolsa de Nova York, é principalmente com os meses de agosto e setembro, em meio à ansiedade sobre a previsão climática, para o verão de 2021.

As áreas de cana-de-açúcar e café, do cinturão produtor do Sudeste brasileiro, deverão continuar secas, em sua maioria, nos próximos 10 dias. No trimestre de junho a agosto, estima-se que vão predominar temperaturas acima da média.

A tensão climática cresceu, em razão de, no mês de abril, ter predominado a estiagem. A situação colocou em alerta o Sul, o Nordeste, parte do Centro-Oeste e, principalmente, o Sudeste do País. Nesses locais, as lavouras de cana-de-açúcar e café estão entre as mais prejudicadas pela seca.

>> Leia também: Os 15 fatos que você precisa saber sobre uso de NDVI na agricultura

A corrida por capacitação em geoprocessamento para o setor de seguros agrícolas

É fato que a estiagem tem se tornado mais frequente, intensa, longa e abrangente, no Brasil, uma tendência que deve se agravar, em razão da mudança climática.

Este ano, por exemplo, há dois fatores que têm tirado o sono dos produtores rurais, de diferentes regiões brasileiras. São eles:

1º) SECA: a estiagem atrasa o timing do plantio e interfere no resultado das safras. De acordo com imagens de satélites atualizadas, as regiões onde a agropecuária é mais forte no Brasil, estão severamente atingidas pela estiagem;

2º) INCÊNDIOS FLORESTAIS: a situação de seca tende a potencializar ainda mais os temidos incêndios florestais, em algumas regiões do Brasil. Com isso, há risco de as lavouras serem destruídas pelo fogo.

Diante do atual cenário de insegurança climática, os seguros agrícolas despontam como alternativa para reduzir os riscos dos produtores rurais, de prejuízos causados por eventos climáticos extremos ou mesmo por incêndios.

E claro, essa instabilidade tem feito com que profissionais da agricultura sejam mais exigidos. Os mais preparados têm sido muito requisitados para participar do processo de avaliação das lavouras, com uso de imagens de satélites retroativas e técnicas de geoprocessamento.

>> Leia também: Os 3 mapas que todo profissional da agricultura deve utilizar

Crescimento do setor de seguros agrícolas aumenta demanda por monitoramento 

Um setor em expansão no Brasil é o de seguros agrícolas, que visa proteger o produtor rural, contra perdas nas lavouras, safras e plantações. O seguro agrícola é uma modalidade de seguro rural, que garante o plantio, contra prejuízos causados por eventos climáticos ou por incêndios.

O setor de seguros tem sido mais procurado pelos produtores rurais, em função da imprevisibilidade de alguns fenômenos naturais. É o caso de condições adversas do clima, como granizo, geada, chuvas fortes e secas intensas, que costumam gerar prejuízos ao produtor rural.

Tanto os profissionais que atuam em seguradoras agrícolas como aqueles que atuam no dia a dia do campo, a exemplo dos agroconsultores, necessitam de ferramentas de monitoramento, para minimizar os riscos.

É o caso das técnicas de sensoriamento remoto, baseadas em dados de satélites, combinados em Sistemas de Informações Geográficas (SIG), como o software QGIS.

A elaboração de mapas, sobre variáveis agrometeorológicas, pode aumentar os rendimentos das fazendas, potencializar as estratégias de planejamento da produção e ainda evitar perdas nas safras.

É o caso, por exemplo, do mapa da cobertura vegetal, que permite um incrível “Raio-X”, da situação de estresse hídrico nas lavouras, acessível, literalmente, na palma da mão do profissional da agricultura. Com o aumento da produtividade agrícola, é possível garantir uma agricultura mais rentável e sustentável para o Planeta.  

>> Leia também: Os 9 passos para se estimar a produtividade agrícola por satélites

Por que utilizar índice SPI para monitorar a seca?

Um dos temas que mais temos discutido aqui é como a seca se tornou um desafio comum, às várias regiões brasileiras, não apenas para quem vive no Semiárido brasileiro.

O mapa acima mostra a situação de grave estiagem, no Centro-Sul do Brasil, sobretudo em alguns estados do Sul. Daí a necessidade de que profissionais da agricultura utilizem indicadores agrometeorológicos, baseados em dados de satélites, para monitorar a seca e acompanhar a produção agrícola.

Uma dessas ferramentas, que pode ser elaborada, pelos próprios profissionais do setor agrícola, é o mapa do Índice Padronizado de Precipitação (SPI). É um dos mais importantes indicadores, utilizados para monitoramento de seca.

O mapa acima é do SPI, referente às últimas semanas de abril, e destaca o Centro-Sul, como a região mais afetada pela seca, no Brasil. No mês de abril, o Sul foi a região do País com maior percentual de área com seca grave e seca extrema.

Santa Catarina, por exemplo, foi o estado com maior percentual de área com seca extrema. Essas informações são possíveis, graças ao monitoramento da seca, baseado no índice SPI.

Talvez você esteja curioso sobre como é possível estimar o índice SPI, a partir de dados de satélite. A principal característica do SPI é a possibilidade de utilização de monitoramento, tanto de condições secas como úmidas, em diversos períodos. Essa flexibilidade temporal possibilita utilizar o SPI para várias aplicações.

O Laboratório Lapis utiliza dados de precipitação, provenientes do satélite CHIRPS, em ponto de grade, acumulados diariamente, para calcular o SPI.

>> Leia também: A oportunidade que muitos profissionais do agro estão perdendo

Mais informações

No livro “Um século de secas”, foram analisadas, a partir de séries históricas de SPI, a história de mais de 100 anos de secas, incluindo as políticas de adaptação adotadas no período. Para conhecer o Livro, clique neste link.

Para aprofundar o conteúdo deste post, conheça o e-book Sistema EUMETCast, que trata da recepção e aplicação de dados de satélites à agricultura

Compartilhe conosco, você utiliza imagens de satélites para monitoramento agrícola? Como tem sido a experiência?

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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