Estiagem afetará regiões agrícolas brasileiras em abril



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A estiagem tem aumentado as preocupações dos agricultores, na maior parte das regiões brasileiras. De acordo com uma nova atualização do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), no mês de abril, haverá grande irregularidade nas chuvas, na maior parte do Brasil.

As regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul do País serão as mais afetadas pela estiagem, de modo que as chuvas devem se concentrar no Sudeste.

O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis, explica que embora as águas do oceano Pacífico tropical continuem mais frias que o normal, indicando que o La Niña permanece presente, uma grande massa de ar seco se desloca, em direção ao Nordeste, devendo chegar em abril e afetar a formação de chuvas, em várias regiões do Brasil.

“A situação será parecida com o que ocorreu em março, mas desta vez, a região centro-norte do Brasil deverá ser afetada, de forma generalizada, incluindo a região Nordeste, Matopiba e até mesmo o Norte do Brasil”, alerta Barbosa.

Na região do Atlântico Sul, apesar das oscilações nas temperaturas oceânicas, atualmente o cenário está favorável, pois as águas superficiais estão mais aquecidas que o normal. Porém, mesmo com La Niña e Atlântico Sul mais quente, a predominância de uma massa de ar seco, poderá impedir a formação de chuvas nessas áreas.

>> Leia também: Atualização do La Niña e um método para monitorar secas agrícolas

Produtores rurais do Nordeste já enfrentam situação crítica

Se confirmada essa previsão, os produtores de cana-de-açúcar do Nordeste, que já enfrentam situação crítica, poderão ver a safra 2021-2022 sob risco, em razão da estiagem prolongada. A falta de chuvas, no primeiro trimestre deste ano, tem levado à queda na produtividade dessa lavoura, atualmente em fase de colheita.

Em abril, tem início o período chuvoso, no leste do Nordeste, que vai até agosto. Mas este ano tem sido particularmente desafiante, para as lavouras de cana. Temperaturas altas, durante a tarde, colaboram para estressar ainda mais as plantas. Abril será decisivo para o setor sucroalcooleiro, o que pode trazer ainda mais prejuízos para o produtor, no próximo ciclo.

Agricultores rurais do Semiárido podem ser ainda mais impactados, por essa condição climática, pois dependem das chuvas para produzir alimentos.

>> Leia também: Os 15 fatos que você precisa saber sobre uso de NDVI na agricultura

Chuva abaixo da média também afetará Centro-Sul

A expectativa também não é das melhores para os produtores do milho safrinha, principal cultura de outono-inverno, no Mato Grosso do Sul, bem como na região Sul, onde fica a maior parte dessas lavouras.

As condições climáticas de abril e maio, com chuva abaixo da média, irão reduzir a produtividade do milho. Além disso, há risco de ocorrer geada em junho, o que pode impactar significativamente a produção, já que o milho normalmente ainda se encontra em fase sensível.

De forma geral, a estiagem vai afetar a produção de grãos, laranja, café e cana-de-açúcar. Essas lavouras sofreram o impacto da seca, no primeiro trimestre de 2021, que reduziu a produção, causou mortes das plantas e provocou atrasos na colheita.

“As notícias não são animadoras. Se as previsões se confirmarem, abril terá precipitações abaixo da média. Uma massa de ar seco, nas regiões produtoras, poderá empurrar as frentes frias para o oceano, inibindo a formação de chuvas nessas áreas agrícolas”, alerta o meteorologista Humberto Barbosa.

Com entrada de menos frentes frias, em razão desse bloqueio atmosférico, as chuvas serão muito irregulares, principalmente sobre o Centro-Oeste e parte do Sul.

>> Leia também: Os 3 mapas que todo profissional da agricultura deve utilizar

O que indicam as previsões climáticas para abril?

A tendência de estiagem, no Brasil, é um alerta para os profissionais da agricultura. Eles devem aumentar sua capacidade de monitoramento das variáveis climáticas, que afetam diretamente a produtividade das lavouras e os investimentos no setor.

O mapa abaixo foi elaborado pelo Laboratório Lapis, com base no modelo climático ECMWF. Ele permite identificar as anomalias de chuva, previstas para o mês de abril. “Anomalia” é um termo utilizado, na previsão climática, para indicar a variação no volume de chuvas, para mais ou para menos, em relação à média histórica.

Para interpretar o mapa, observe que as áreas na cor de bege e marrom indicam chuvas abaixo da média; em verde, volumes de precipitação acima do normal; e em branco, chuvas em torno da média histórica.

>> Leia também: Os 9 passos para se estimar a produtividade agrícola por satélites

Mapa semanal destaca áreas mais secas do Brasil

O mapa da precipitação acima mostra os volumes de chuva, nas regiões brasileiras, na última semana. O destaque é a seca, que afeta a região Nordeste e Sul, além de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Essa é uma das mais simples e importantes ferramentas agrometeorológicas, que o profissional da agricultura pode utilizar, em seu dia a dia, para orientar a produção agrícola. Os dados de precipitação são obtidos gratuitamente, de modo que o profissional precisa apenas saber manipulá-los, em um Sistema de Informação Geográfica (SIG), como o software QGIS.

Desde 1999, um grupo de cientistas norte-americanos desenvolveu os dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).

São séries de dados de precipitação, obtidas a partir de satélites, para quase todas as regiões do mundo. Esses dados estão disponíveis gratuitamente e são muito úteis para o monitoramento e análise da tendência de seca sazonal.

Com esses dados, os profissionais da agricultura podem produzir mapas de chuva, sendo muito importantes para as áreas rurais, onde os dados de superfície são mais escassos.

O Laboratório Lapis desenvolveu técnicas para elaboração desses mapas, com uso do software QGIS. A ferramenta permite que profissionais da agricultura estimem a variação nos volumes de chuva, no espaço e no tempo, detectando a tendência de seca, de forma antecipada.

>> Leia também: A ferramenta de satélite que pode alavancar a produção agrícola

O uso do software QGIS para praticar agricultura de precisão

A agricultura de precisão é um conceito, que utiliza técnicas de manejo localizado das lavouras, com uso de dados de georreferenciamento no campo.

Esse modelo torna possível aplicar insumos agrícolas, de acordo com as necessidades do solo e das plantas, nos locais e no momento mais adequado.

Diferentemente da agricultura convencional, a agricultura de precisão considera o campo como uma área heterogênea. Assim, sua prática requer o uso de ferramentas que auxiliem no manejo adequado de cada local, como GPS, drones e softwares de Sistema de Informação Geográfica (SIG), como o QGIS.

O QGIS é um software gratuito muito utilizado, para aplicações de dados de satélites, à agricultura de precisão. Com ele, é possível mapear as condições da adubação, produtividade das lavouras, análise do solo, condições de fertilidade, entre outros, otimizando o uso dos insumos e protegendo o ecossistema.

O Laboratório Lapis desenvolveu uma metodologia exclusiva, para treinar profissionais da agricultura, no uso do QGIS, aplicado ao manejo agrícola. Os mapas produzidos permitem monitorar a produção agrícola, a partir de satélites, permitindo uma análise integrada e o diagnóstico mais completo da condição da lavoura.

*Post atualizado em: 29.03.2021, às 11h01. 

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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